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Sim, é como o malabarista: aquele que exibe extrema habilidade e destreza de movimentos de corpo, agarrando objetos no ar.

Os objetos ao ar são tantos.

Na sala de aula virtual, a leitura e gestão de cabeças sem corpos, o garantir da escuta, o garantir da fala, a criação de efetivos momentos de encontro, o perseguir da criação de situações de vivacidade, o encantar num campo reduzido de pontos de contato.

Na sala de aula física, estar próximo sem estar de corpo próximo, fazer uma aula humanizada superando as expressões que se escondem sob as máscaras sem a leitura da afetividade das fisionomias, o migrar aos gestos expandidos às expressões, a voz que não chega ao aluno, a voz que não chega do aluno. É desejar estar próximo sabendo com preocupação dos riscos assumidos (não há risco zero).

Tantos também são os objetos ao ar no mundo como os extremismos, exemplos modelares autoritários, autorizações a discursos estereotipados e a priori refratários, mortes transbordantes, lutos, sentimentos de impotências, esperanças frustradas, desencantos.

Ser adulto professor neste momento é ser corpo atravessado.

É ser sem trégua. Ser continente constante.

É ir até a casa da criança e, pelas expansões-extensões corporais virtuais, fazer o convite mais delicioso, mais irresistível, mais suporte dos estados todos. 

É querer o encontro sabendo que esse outro é também um lugar de ameaça (a máscara como índice de cuidado e de segurança ao outro/eu potencialmente contaminante).

É escutar junto ao grupo sobre o falecimento dos parentes. É falar sobre a morte e as crenças em faixas etárias nas quais a finitude, para muitos, não era, até então, pauta. É mostrar que há começos e recomeços. 

É deixar mostrar os trabalhos feitos em casa durante a semana, mesmo que restem para depois as intencionalidades primeiras. É ver a fala dos tantos silêncios. É ser regente das vozes que virariam rapidamente inescutáveis. É fazer acontecer tempos, respiros, silêncios, escutas… tudo isto estando sem estar, ou sem estar estando.

E tudo isto em movimento, atravessando, perfurando as razoabilidades e os equilíbrios.

O professor atualiza, no seu corpo, um estado cambaleante de orquestração, um [des]equilíbrio dinâmico. Vislumbrando e se apoiando na perspectiva futura – natureza otimista e idealista sempre presente nos que escolhem a educação, investem no presente acreditando que logo tudo estará mais possível.

Dá estranhamento a não alternância quando vemos o trabalho de um aluno ser amassado por alguém da família por “não estar bom”. Vemos os quartos de menina, inundados de rosa. Escutamos os avós, nas poltronas logo ali, assistindo às reprises das novelas. Fica desvelada, na proximidade da distante casa aberta pela câmera, os contextos que geram as complexidades e as riquezas que são cada um que acompanhamos… anteriormente apenas aferidos. 

Dá inchaço na perna… falta circulação.

Dá cansaço ler cabeças. 

Dá dor nas costas pois há, por estes tempos, pesos da ordem das desumanidades que extrapolam os encontros com as crianças, mas que não por isto não nos inundam. 

Ser professor na pandemia é um pouco performar “A Vida é Bela”, é defender os sonhos, as fabulações. Há nisto algo de nobre e de custo.  

Entre um malabar e outro, este educador pandêmico atravessado vive na maioria das vezes descuidado. Ali, malabarista flechado se vê muitas vezes não escutado, não vacinado, não sustentado.

Sem chão, o professor malabarista vira malabares, num contexto pandêmico absurdo, no qual busca equilíbrio de pernas pro ar.

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