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Penso por onde começar esse texto e a única lógica que me vem em mente é a de dar início pelo final: os direitos humanos. Mas não creio que seja certo só considerá-los como a chegada; na verdade, eles nos acompanham e delimitam todo nosso trajeto na busca deles mesmos – são o meio e o fim. Ou melhor, os meios. Sim, no plural, pois são tantos os percursos que podemos tomar para chegar aos direitos humanos e não seria por menos: somos seres tão plurais em uma sociedade tão diversa, tendendo ao infinito de formas de estar e se expressar.

Uma dessas formas de expressão é a arte. Para fazer arte temos como base a nossa realidade, e, no entanto, transgressora e transformadora como é em sua essência, ela não se satisfaz com o mero ato de replicar. Arte é como um espelho mágico que mostra à sociedade seu reflexo, mas a cada momento faz de uma forma diferente: hora mostra uma parte; hora brinca de ampliar e diminuir características; hora quebra regras; hora as segue estritamente, nos deixando sem saída senão ver a verdade nua e crua.

Algumas vezes mostra o passado, outras, possíveis futuros. Fato é que arte é mais que um simples reflexo do coletivo, é uma forma de catalisar todos os sentimentos, pensamentos, leis e estruturas do social; um grande boom de auto-observação.

Mais especificamente, quero trazer a arte da cena ao debate. Seja teatro, as diversas telas – do cinema ao celular – até em meio a uma multidão na rua ou qualquer outro espaço no qual ela se ouse fazer presente. Seja lá qual for a opção, vemos uma relação entre artista, arte e plateia sendo construída de forma ativa, viva.

E o que isso tem a ver com os direitos humanos? O fato é que este é um dos possíveis caminhos até eles. Talvez sempre tenha sido, mas especificamente na democracia – ainda mais nos tempos em que estamos vivendo – percebemos que estamos tal como a esperança, de Aldir Blanc e João Bosco, nos equilibrando na corda bamba de sombrinha.

Ela, mais que milenar e mais experiente, dança. Nós, jovens e iniciantes, tateamos o espaço. E por mais durões e corajosos que possamos ser e transparecer, todos com medo. Todos estamos, a todo instante, tanto andando na corda, quanto observando, curiosos espectadores que somos.

A situação fica complexa na medida em que a arte é feita por e para pessoas, cada qual com suas percepções e ideologias. Assim, é utilizada como uma ferramenta de manipulação. Se não tivermos o cuidado de refletir conscientemente sobre o que estamos entrando em contato, grupos se formam e podem gradativamente modificar toda uma cultura.

É sobre isso que quero tratar. Meu nome é Erik Martins. Eu sou psicólogo, sou ator, e isso são só alguns títulos que recebi e venho desenvolvendo. Importantes? Sim, acredito que sim, pois dizem um pouco de mim e da minha participação nesse caminhar coletivo.

Mas é uma pequena parte desse grande vitral da humanidade no qual todos nós estamos, cada um e cada uma com seus títulos e suas habilidades. Isso talvez represente cinquenta por cento. Os outros cinquenta são da sensibilidade e da coragem de enfrentarmos esse caminho como a esperança.

Inúmeras são as veredas da vida e todos temos um pouco a aprender uns com os outros. Aqui venho fazer uma contribuição para que possamos refletir sobre o que estamos consumindo como arte, para construirmos um futuro melhor pelo caminho dos direitos humanos.

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Ewerton
Ewerton
3 anos atrás

Perfeito!!! 😍

Ana Paula dos Santos Joaquim
Ana Paula dos Santos Joaquim
3 anos atrás

Texto impecável! ♥️😍

Flávia Moreth
Flávia Moreth
3 anos atrás

Linda análise sobre arte, vida e ser… não fossem o lirismo dos artistas, certeza que estaríamos em uma escuridão ainda maior. Belo texto, Erik !