Na encruzilhada, lugar de fluxo, transitoriedade e passagem, somos levados a decidir sobre os sentidos e as direções.
Estar na encruzilhada é permanecer da iminência das destinações. O cruzo é um estado de presença, de troca, de jogo e de relação.
Nas encruzilhadas se fazem os trabalhos de umbanda, instante de suspenção, parada e trabalho. É nas esquinas, enquanto cruzo, que muitas outras matrizes religiosas vão fazer as conversas cheias de delongas.
O cruzo é o momento que antecede o de decidir por onde.
Direitos humanos e educação vêm de estradas com ritmos, histórias e contornos bastante específicos. Assim, o cruzo entre estes dois campos implicará trazer ao jogo a aproximação entre caminhos já constituídos e, neste sentido, a encruzilhada será meio de percurso.
Esta coluna se organizará no sentido de trazer, a cada mês, uma reflexão sobre este lugar de cruzamento e encontro, pautada em acontecimentos contemporâneos, temáticas específicas, situações do cotidiano escolar, notícias, livros ou dinâmicas institucionais que ajudem a ver e compreender a relação entre os campos como algo imprescindível aos destinos.
Estas situações de encontro estarão pautadas no entendimento da educação como formação à práxis social, à cidadania ativa, à valorização da diversidade e à formação ética, estética e política. A educação como direito humano, a educação para os Direitos Humanos e a educação em Direitos Humanos será também visitada, a fim de que se desvelem os implícitos das destinações.
Serão também questões de interesse neste espaço a educação pautada em lógicas não hegemônicas, na linguagem contra hegemônica, os conhecimentos periféricos, as realidades e existências na sua multiplicidade. Os currículos fabulados e efetivados, bem como as dinâmicas relacionais nos contextos de relação com as homologias (ou a ausências delas) implícitas, serão analisados a partir das noções de epistemicídio, das naturalizações e manutenções, das situações de privilégio, os compassos e descompassos frente às legislações que versam sobre este cruzo.
Por fim, vislumbraremos a formação humanista e o bem comum. Serão problematizados a objetificação do outro (humano e não humano), a relação dos direitos humanos e da educação com a democracia, as interdependências, as coexistências, a defesa das opacidades, as dinâmicas de invisibilizarão e silenciamento e o valor de reagir ao que não se mostra digno (indignação).
Neste cruzo desejarei aguçar os estranhamentos, os desconfortos e as reflexões.
Restaremos vagueantes no entre, escarafunchando as urdiduras, os contrapelos, as minúcias. Traremos às reflexões do hoje, o antes. Neste cruzo, viveremos a flexão dos sinais ao amanhã.