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Sequenciamento do genoma do novo coronavírus em tempo recorde e desenvolvimento de testes rápidos de diagnóstico e vacinas contra a SARS-CoV-2, no que diz respeito apenas à pandemia. Antes dela, a descoberta da estrutura do DNA, de elementos químicos da tabela periódica e de estudos sobre radioatividade que permitiram que a sociedade desenvolvesse a radiologia e a radioterapia. Paralelamente a isso, feitos que transgrediram a ciência, desembocando na dinâmica social, tais como o ativismo pelos direitos das mulheres dentro de casa, no mercado de trabalho e na política. 

Estas são apenas algumas das contribuições de cientistas mulheres do Brasil e do mundo, homenageadas no último dia 11 de fevereiro, data que passou a ser comemorada, desde 2015, como Dia Internacional de Incentivo às Meninas e Mulheres na Ciência, devido a uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU)

Mas, apesar da nítida importância do trabalho delas neste universo e da necessidade de continuarmos a valorizar quem já atua no ramo e a incentivar as novas gerações a explorarem este campo, dados do setor mostram que ainda há um percurso considerável rumo ao combate à desigualdade de gênero, sobretudo em áreas temáticas específicas, como STEM [acrônimo formado pelas iniciais das palavras ciência, tecnologia, engenharia e matemática, em inglês].

Para se ter uma ideia, mesmo hoje, apesar de estarmos numa era em que mulheres têm mais acesso à formação acadêmica, se comparada à geração de suas mães e avós, e serem maioria em sete áreas do conhecimento científico na USP, por exemplo, elas são sub-representadas ao ultrapassarem as fronteiras da pós-graduação.

Além disso, a comunidade feminina segue lidando com a desigualdade de gênero no quesito publicação e citação de trabalhos realizados, fato que é produto da história e da sociedade patriarcal em que vivemos e que, como o journal48 discutiu com quatro cientistas brasileiras, são problemas que acabam gerando a descontinuidade na carreira científica e impossibilitando a tentativa de retorno ao ambiente acadêmico.

A seguir, confira os principais pontos dessas prosas sobre carreira, os prazeres e algozes de ser mulher e pesquisadora no Brasil e no exterior, além do que se entende hoje por presença e representatividade feminina neste universo. 

Um campo que ainda sofre com a desigualdade de gênero

Apesar de dispormos e usufruirmos de descobertas e inventos de mulheres, não só em meio à pandemia da Covid-19, mas ao longo de nossas vidas, historicamente nota-se que muitas não são lembradas ou mesmo conhecidas, como observa Tatiana Porto, Química graduada pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Biotecnologia e doutora em Bioquímica pela University of Essex, no Reino Unido.

Durante seus estudos na Inglaterra, ela participou de uma edição do festival ‘Women of the World’, no qual era realizado um jogo com fotos de grandes cientistas reconhecidas internacionalmente, cujas áreas de atuação tinham de ser adivinhadas pelo público. Ao se deparar com a atividade, Tatiana ficou impressionada e pensou: “Se eu for fazer um jogo parecido, uma atividade para a criançada, quem eu colocaria? Porque tem algumas que estão em proeminência, como a Natalia Pasternak, que poderia estar, mas e o resto? Quem eu tenho? Por que não aparecem na mídia? É uma coisa que eu teria que pensar.”

Tatiana Porto faz parte do grupo de mulheres na ciência
A cientista Tatiana Porto. | Créditos: Arquivo pessoal.

Para ela, a fim de observarmos alguma mudança a cada dia 11 de fevereiro, no que diz respeito ao gênero no mundo científico, é preciso que, no ambiente escolar, as próprias professoras, por exemplo, se reconheçam como cientistas, entendam que podem estimular alunas a seguirem o mesmo ou quaisquer outros caminhos profissionais, pois:

“Cada menina, cada mulher que está envolvida em ciência tem que pensar que ela pode ser um potencial modelo para outras pessoas. É isso que está faltando, essa chave, para que as coisas comecem a mudar. Por exemplo, você assiste a uma palestra de uma pessoa e pensa ‘poxa, eu queria estar como ela’, como aconteceu comigo”, afirma Tatiana Porto.

Também durante o período que passou na Inglaterra, ela conheceu a história de uma professora de Oxford, que interrompeu a carreira para formar família, retornou oito anos depois, teve seu nome conhecido apesar dos desafios enfrentados no regresso e, por isso, chegou a receber um título de Dama da Rainha Elizabeth. “Pensei ‘nossa, que coisa, então, não tem problema a mulher ter que parar a carreira científica para poder ter filhos, para poder ter uma família [ou] estar cuidando dos pais idosos — que é o meu caso — e por aí vai. Você consegue ter [essa pausa na carreira]’. Só que aqui, no Brasil, eu não vejo muita flexibilidade nas profissões”, conclui Tatiana.

Casos como o citado pela cientista são praticamente uma exceção, ao menos num ambiente como o Brasil, visto que nos últimos anos vinha acontecendo o debate sobre a necessidade de se colocar alguma informação acerca do período de licença-maternidade no Currículo Lattes, coisa que se concretizou em 2021, após campanha árdua do Parent In Science e pesquisadoras engajadas com a causa.

Ainda assim, a conquista é bastante recente e, no fim das contas, funciona mais como uma espécie de detalhe técnico, como considera Flávia Callefo, que é Bióloga, mestre em Geociências, doutora na área de Geologia pela Unicamp, com período na Old Dominion University (ODU), nos Estados Unidos, e atualmente pós-doutoranda no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, mais conhecido como Projeto Sirius.

“É um avanço, mas, na prática, está muito longe de isso ser um ponto positivo, porque [se] você vai prestar um concurso, por exemplo, ninguém vai olhar o seu Lattes, especialmente os homens que estão ali te julgando. Eles não vão ligar para aquele período de maternidade, vão ligar para o número de artigos que você tem publicado”, explica Flávia.

Flávia Callefo, mulher cientista.
Na foto, Flávia Callefo. | Créditos: Arquivo pessoal.

Para ela, uma mãe que teve dois ou três filhos durante a carreira terá o Currículo Lattes mais defasado com relação ao número de publicações, se comparado aos dos homens que estarão prestando o concurso junto com ela. “Essa é uma dificuldade que eu ainda não passei, mas conheço muitas colegas que já passaram por isso e um dia eu vou passar também”, afirma.

A inclusão do período de licença-maternidade é importante, sobretudo para as cientistas-mães, como é o caso de Flávia e também de Thaís Maester, Bióloga e doutora em Biotecnologia, que além de se dividir entre a pesquisa e os cuidados da filha, também empreende no ramo, com a startup Ecobiotech

A cientista, mãe e empreendedora Thaís Maester.
A cientista, mãe e empreendedora Thaís Maester. | Créditos: Arquivo pessoal.

Enquanto mulheres, mães e cientistas, elas acabam passando ou ficando sujeitas a vivenciar mais ou menos facetas da cultura machista e patriarcal, que podem ser similares entre si ou não. Para Thaís, o recurso de inclusão do período de licença-maternidade é um avanço, ainda que muito jovem, mas com ou sem ele, ela também acaba passando por situações machistas fora do ambiente virtual, do contexto de análise de seu Currículo Lattes.

Enquanto sócia da startup, por atender um setor um tanto mais operacional e que, portanto, é ocupado majoritariamente por homens, ela nem sempre é cumprimentada em reuniões com investidores, por exemplo, por não teorizarem que ela é sócia do negócio junto ao homem também presente no ambiente – no caso, Rodrigo Nery.

Flávia, por sua vez, já sofreu manterrupting [neologismo que significa “homem interrompendo” e se trata de quando um homem interrompe uma mulher para explicar ou repetir justamente o que ela já estava falando] durante seu mestrado e doutorado, além de ter recebido um retorno machista e xenofóbico de um editor branco e europeu sobre um artigo que submeteu a uma revista científica internacional.

Hoje, atuando no laboratório, na área de geociências, que é majoritariamente masculina, ela diz que não lida tanto com situações machistas no trabalho, ao menos na bancada, por conviver com homens mais questionadores da cultura. Entretanto, em campo, geralmente vislumbra ações que admite não saber se passam do limiar do cavalheirismo ao mero machismo:

“A gente faz muito trabalho de campo, desde praias até pedreiras, e sempre algum homem quer carregar algum material para você. Ou você está martelando, sabe o que está fazendo e a pessoa vai lá, quer martelar no seu lugar, porque acredita que você não é capaz fisicamente ou que é um trabalho perigoso demais para mulher. Daí a gente não sabe como interpretar porque o limiar esbarra um pouquinho.”

Já Carolina Caliari, Bióloga graduada pela Universidade Federal de Uberlândia, mestre e doutora em Imunologia pela USP de Ribeirão Preto e sócia da startup In Situ, que atua na área de terapia celular, contou que, em uma situação recente, ao participar com a sócia de uma conversa com investidores, enfrentou um momento extremamente machista.

“A gente discutiu números do negócio, ciência, de tudo; e aí o investidor disse ‘deixa eu fazer uma última pergunta para vocês? Se vocês não quiserem responder, tudo bem e tal, mas vocês são casadas?’, daí ele falou assim ‘ah, porque a gente precisa saber. Vocês estão falando de internacionalizar, de sair do Brasil. A gente precisa saber o quanto vocês estão disponíveis para ir’. Na hora que acabou a entrevista eu falei para minha sócia ‘anota aí essa pergunta’, [pois] se fosse [para um] homem, ela não existiria”, narra Carolina.

Carolina Caliari, cientista e sócia da In Situ Terapia Celular.
Carolina Caliari, cientista e sócia da In Situ Terapia Celular. | Créditos: Arquivo pessoal.

Maior presença feminina, mas em áreas temáticas

De acordo com o levantamento “A jornada do pesquisador através das lentes do gênero”, realizado pela empresa Elsevier e publicado em novembro de 2020, a participação de mulheres na pesquisa científica tem aumentado de maneira geral, mas a desigualdade se faz presente entre os países de origem, em áreas temáticas em termos de resultados de publicações, citações, bolsas concedidas e colaborações. 

Na página 158 do estudo, no levantamento de “autores ativos durante os períodos 2014–2018”, consta que no Brasil, homens se mantiveram produzindo no tempo indicado, de modo que totalizavam 195.430 indivíduos (55,7%) contra 155.132 mulheres (44,2%). Ao analisarmos por áreas temáticas, as brasileiras são maioria nas seguintes carreiras científicas:

Bioquímica (52,7% mulheres, totalizando 28.577 autoras; e 47,2% homens, sendo 25.598 autores), Odontologia (52,4% mulheres, com 6.238 autoras; e 47,5% homens, com 5.654 autores), Imunologia e Microbiologia (57,7% mulheres, com total de 12.585 autoras; e 42,3% homens, com 9.225 autores),
Medicina (52,7% mulheres, totalizando 62.666 autoras; e 47,2% homens, sendo 56.150 autores), Neurociência (54,3% mulheres, sendo 6.238 autoras; e 45,6% homens, com 5.654 autores); Enfermagem (73% mulheres e 9.380 autoras; e 26,9% homens, sendo 3.464 autores) e Farmacologia (57,6% mulheres, com 10.715 autoras; e 42,3% homens, totalizando 7.867 autores).

Efeitos da pandemia na produtividade acadêmica

Outro levantamento do Parent In Science, intitulado “Produtividade acadêmica durante a pandemia: Efeitos de gênero, raça e parentalidade”, evidencia o quanto mulheres tendem mais a ficar pelo meio do caminho no que diz respeito à carreira, sobretudo num cenário mais atípico que o normal, como a pandemia.

Por exemplo, dentre os docentes que têm conseguido trabalhar remotamente ao longo deste período, apenas 8% são mulheres, contra 18,3% homens. Se considerarmos gênero e parentalidade, apenas 4,1% das que trabalham remotamente têm filhos, enquanto 18,4% não têm; para os homens, no mesmo quesito, estima-se que sigam trabalhando 14,9% dos que têm filhos e 25,6% dos que não têm filhos.

O mesmo tópico, porém aplicado a pós-doutorandas fica da seguinte maneira: 13,9% delas são mulheres que estão trabalhando remotamente contra 27,9% homens; considerando parentalidade, apenas, 2,2% das mulheres têm filhos, contra 25,1% sem filhos; e, no caso de homens, os com filhos representam 4,2% contra 37,6% sem filhos.

Por fim, no caso das pós-graduandas, a situação melhora sutilmente, já que o percentual das que estão conseguindo trabalhar remotamente é de 27% contra 36,4% dos homens; ao considerar parentalidade e gênero, o número cai para 11% se contarmos mulheres com filhos, e sobe para 34,1% ao quantificar as que não têm filhos. No caso dos homens, 20,6% dos que têm filhos seguem trabalhando remotamente, contra 41,1% sem filhos.

Dados relacionados à submissão de artigos de docentes conforme cronograma planejado também chamam atenção. Pouco menos da metade (49,8%) das mulheres conseguiram fazê-lo, mas destas, a maioria (56,4%) não têm filhos. 68,7% dos homens na mesma condição conseguiram seguir seus cronogramas e 65,3% deles têm filhos.

Vale adicionar, ainda, que 46,2% das mães docentes que puderam submeter os artigos tinham filhos de idade a partir de sete anos; o número sobe para 59,3% se eles têm 18 anos ou mais. Já os homens, independentemente da idade dos filhos, mantêm bem a percentagem de submissão.

O mesmo se observa no tópico “publicação conforme o tempo de carreira”, de modo que mulheres com menos de um ano de formação não publicam tanto (são apenas 28,4%, contra 48,1% dos homens). Isso muda um pouco entre as que têm de cinco a dez anos de atividade (37% das mulheres publicam, enquanto 57,5% dos homens também o fazem) e melhora consideravelmente para a comunidade feminina a partir de 15 anos de atuação (55,2% das mulheres publicam, contra 63% dos homens).

Finalmente, o Parent In Science sinaliza nas conclusões do documento que “a produtividade acadêmica de homens, especialmente os sem filhos, foi a menos afetada pela pandemia”, o que revela a sub-representatividade feminina enaltecida em um momento no qual as mulheres já são as mais afetadas em outros aspectos.

Percepções para mudar o futuro

Quando falamos de pessoas e suas respectivas carreiras, sabemos que não há uma regra a ser seguida à risca, uma trajetória-base, sobretudo ao considerarmos gênero, raça, parentalidade e também classe social. No entanto, de uma maneira ou de outra, tanto as entrevistadas quanto grandes nomes por trás de feitos citados nesta reportagem passaram, vez ou outra, em níveis diferentes, por situações machistas e também xenofóbicas. Muitas delas sequer couberam aqui. Diante disso, como proceder? O que fazer para mudar os próximos dias 11 de fevereiro mundo afora? 

O assunto é complexo por natureza, extenso, mas todas concordaram em suas entrevistas individuais que mudar o cenário de garotas e mulheres no mundo científico requer mais ações como o reconhecimento da licença-maternidade, questionamento da sociedade patriarcal e machista por parte de todos e uma mudança na proposta de educação escolar e familiar das novas gerações.

Para Tatiana Porto, a questão de gênero começa muito cedo, pois “são os brinquedos e as roupas, desde pequena, que fazem a primeira formação das meninas na ciência.”

De encontro à sua fala vai Flávia Callefo, que diz que precisamos avançar muito no que diz respeito à separação das áreas do conhecimento, como mais apropriadas para meninas ou meninos. “É muito difícil meninas terem o incentivo natural para se tornarem cientistas. Isso vem, muitas vezes, por conta dos pais, da educação que essa criança recebe e dos brinquedos que são dados à ela na infância”.

Já Carolina Caliari pontua que “as mulheres têm que ter acesso à informação, ao mercado de trabalho e devem ser mais bem remuneradas, para que possam de fato fazer as escolhas próprias”. Segundo ela:

“O que acontece, muitas vezes, é que a mulher ganha menos e daí o trabalho dela é sempre o descartável na família. A partir do momento que a gente tiver esse reconhecimento, tanto profissional quanto financeiro, a gente vai conseguir fazer as nossas próprias escolhas ao invés de sermos escolhidas pela situação.”

Finalmente, Thaís Maester acrescenta sobre o papel do homem na mudança da sub-representação de gênero no mundo científico: “é preciso ter mais pais (e pais-pesquisadores) participando da criação dos filhos.”

Grandes feitos de mulheres cientistas

No início desta reportagem abordamos alguns feitos de cientistas de todo o mundo e, como foi dito anteriormente, muitas mulheres cientistas sequer são (re)conhecidas por seus trabalhos. Confira agora quem fez o quê dentre as contribuições mencionadas:

Durante a pandemia

Sequenciamento do genoma do novo coronavírus em tempo recorde:

A imunologista, pesquisadora e professora universitária brasileira Ester Sabino e a biomédica brasileira Jaqueline Góes de Jesus, juntas, sequenciaram o genoma do novo coronavírus em apenas 48 horas.

Desenvolvimento de testes rápidos de diagnóstico:

Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier desenvolveram um exame baseado no método de edição de genoma que acabou lhes rendendo o Nobel de Química em 2020.

Desenvolvimento de vacinas contra a SARS-CoV-2: 

Özlem Türeci, uma das fundadoras da BioNTech, ao lado do marido também cientista, Ugur Sahin, desenvolveu a primeira geração de imunizantes contra o novo coronavírus. Além disso, a imunologista viral norte-americana Kizzy Corbett liderou a criação da vacina Moderna, uma das primeiras a serem desenvolvidas para o combate da Covid-19.

Retrocedendo um pouco na História

Descoberta da estrutura do DNA: 

Rosalind Franklin, química britânica, descobriu a estrutura do DNA e também ajudou na compreensão do ordenamento do RNA.

Descoberta de elementos químicos da tabela periódica e de estudos sobre radioatividade que permitiram que a sociedade posteriormente desenvolvesse a radiologia e a radioterapia: 

Marie Curie, física e química polonesa que ganhou dois prêmios Nobel (de Física e Química) por suas contribuições e, ainda assim, sofreu preconceito na Academia por simplesmente ser mulher.

Ativismo pelos direitos das mulheres:

Bertha Lutz, cientista brasileira que descobriu diversas espécies de sapos e se destacou como ativista pelos direitos femininos, tal como o voto, que no mês passado completou 90 anos.

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Afonso Ribeiro
Afonso Ribeiro
2 anos atrás

Que reportagem incrivel, parabens Luana Reis e equipe Journal48