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Atuante no setor cultural desde 2007, o Instituto Olga Kos é uma organização sem fins lucrativos que nasceu com o objetivo de desenvolver, sobretudo, projetos artísticos, esportivos e científicos destinados às crianças, adolescentes e adultos com deficiência intelectual. Ao longo dos anos, os organizadores do IOK vêm monitorando a evolução dos participantes durante as atividades realizadas nas oficinas, a fim de calcular os progressos nas metodologias e a adaptação dos participantes.

O Índice Nacional de Inclusão Olga Kos para Pessoas com Deficiência (INIOK – PcD) começou a ser desenvolvido em 2019. Com a intenção de identificar o grau de inclusão no Brasil, o INIOK – PcD já passou por duas fases iniciais e entrou para a discussão da agenda 2030 da ONU.

A primeira das fases, de acordo com Natalia Monaco, profissional de Educação Especial e Adaptada e coordenadora do Departamento de Pesquisas em Desenvolvimento Humano e Diversidade do IOK, consistiu na examinação de registros internos de avaliação e monitoramento do próprio instituto. Já a segunda, envolveu o cruzamento de dados de materiais secundários do IBGE, da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS – 2013/2019) e do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA).

Neste processo, o índice recebeu aprovação e parceria da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e os protocolos de intenção nº 00135.224309/2020-10, nº 71000.056302/2021-13 e nº 08001.001252/2021-91 foram assinados também com o apoio do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, do Ministério da Justiça e Segurança Pública e do Ministério da Cidadania.

“O objetivo do índice que estamos desenvolvendo, assim como das demais atividades que realizamos ao longo de nossos quase quinze anos de atuação, é fornecer à sociedade resultados que impactem diretamente na construção e melhoria de políticas públicas”, diz Natalia Monaco.

O QUE AINDA ESTÁ POR VIR

A coleta de dados primários para o desenvolvimento do INIOK – PcD foi realizada em 12 estados brasileiros e no Distrito Federal para dimensionar a inclusão de pessoas com deficiência nesses locais. Na lista estão:

  • Acre (AC);
  • Rondônia (RO);
  • Amazonas (AM);
  • Bahia (BA);
  • Pernambuco (PE);
  • Maranhão (MA);
  • Mato Grosso (MT);
  • São Paulo (SP);
  • Espírito Santo (ES);
  • Minas Gerais (MG);
  • Santa Catarina (SC);
  • Rio Grande do Sul (RS);
  • Distrito Federal (DF).

A escolha dos estados foi baseada em elementos sociodemográficos e perguntas realizadas aos recebedores do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e Cadastro Único (CadÚnico), garantindo amostra de todas as classificações de pessoas com deficiência no Brasil.

Por exemplo, depois da classificação dos estados e dos municípios, foram quantificadas as pessoas com deficiência auditiva, intelectual, visual e física, todas com idade a partir de dois anos. Porém, para crianças com menos de cinco anos, houve uma adequação das questões para propiciar a captação de respostas.

No método qualitativo, os organizadores avaliaram durante a visita de campo os seguintes critérios:

  • Grupo operativo: técnica para coletar dados a partir da socialização;
  • Shadowing (sombreamento): acompanhamento de pessoas;
  • Registros sistemáticos: ações que aproximarão o método de pesquisa com a hipótese dela;
  • Registros fotográficos de todos os processos.

Com esse material computado, o estudo pôde constatar que os estados de Santa Catarina e Distrito Federal se destacam no quesito inclusão, a partir de um total de indicadores que foram levantados, como religião, interculturalidade, vizinhos, segurança, autonomia, incentivo, água, energia, informação, participação politica, profissão, logística, entre outros. Já Amazonas e Piauí foram os estados menos inclusos.

Conforme explica Natalia, é esperado que a publicação desse novo Índice Nacional de Inclusão aconteça após o resultado da aplicação de campo que começará em dois meses, envolvendo os dados primários, registros sistemáticos e shadowing.

Espera-se que este estudo apresente o cenário da inclusão de crianças, adolescentes e adultos com deficiência no Brasil, e assim, levante as lacunas existentes neste processo. A Inclusão é uma ação que permeia a vida do ser humano, e só com políticas públicas e legislações sérias é que poderemos encontrar os melhores caminhos para que estas pessoas vivam com maior qualidade de vida e tenham os seus direitos e deveres aferidos”, conclui ela.

O CICLO DA INCLUSÃO

Embora a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade caminhe a passos lentos, a experiência vivenciada nos projetos do IOK tem um alto impacto na vida dessas pessoas, uma vez que possibilita a inserção em todas as esferas garantidas por lei, seja no mercado de trabalho, na educação ou na saúde.

Geralmente, os workshops e atividades são ministrados em Centros Educacionais Unificados (CEUS’s), Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEF’s) ou demais ambientes adequados, que são apresentados pelas instituições parceiras, entre elas a Secretaria Municipal da Educação (SME), e organizações privadas. Com isso, a proposta do IOK é despertar a autonomia e a sociabilidade da pessoa com deficiência, melhorando a qualidade de vida e exercitando valores como cooperação, além de aumentar os meios de comunicação e expressão dos integrantes.

Conforme a visão de Silva Regina de Liz Souza, pedagoga com especialização em síndrome de down, coordenadora e mediadora do Departamento de Artes do IOK, o aumento de repertório é uma das grandes conquistas para as crianças, jovens e adultos que ingressam nos projetos. Consequentemente, as equipes notam o aumento da concentração dos participantes, uma habilidade essencial para outras atividades da vida, inclusive a preparação para o trabalho.

“Com a participação nas aulas de esportes, percebemos um desenvolvimento social, motor e cognitivo em nossos alunos. Até porque trabalhamos a disciplina dentro das atividades de karatê e taekwondo, o que se estende para fora do tatame, com nítida evolução em sociedade”, completa Silva Regina.

Natural de São Paulo, Monica dos Santos Rocha, 27 anos, tem síndrome de down e freqüenta o Instituto Olga Kos desde os 19 anos. A jovem está em processo de graduação em faixa preta em taekwondo e trabalha como instrutora nas oficinas.

Monica descreve que o suporte dado pela sua família foi fundamental para o seu crescimento, seja dentro ou fora do Instituto. “Ser membro do IOK me ensinou a trabalhar em equipe e os aprendizados são infinitos, por exemplo, melhorou a minha auto-estima e a minha concentração, além de controlar a ansiedade e a timidez”.

“Eu me sinto muito feliz em ensinar o que aprendi, e gostaria que todas as pessoas tivessem a mesma oportunidade que eu tive. Também desejo que houvesse menos preconceito, mais inclusão na sociedade, e melhoras no ensino e na saúde”, conclui Monica.

Por fim, Márcio Glaber Del Nero, 38, também uma pessoa com síndrome de down, começou a frequentar os workshops no IOK há 12 anos, quando sua família resolveu buscar alguma atividade para preencher o seu tempo.

Atualmente, Márcio é instrutor de karatê e a vivênia no Instituto é primordial não somente para adquirir experiência, mas para ajudar na qualidade de vida de todos os envolvidos. “Hoje sou mais leve e solto por despertar o potencial dos cidadãos. Além disso, desejo que as pessoas com deficiência sejam abençoadas, que tenham confiança, respeito, disciplina e segurança para alcançarem seus sonhos”, finaliza ele.

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