Jornalismo em r(evolução)

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Algo está diferente no jornalismo brasileiro. Em partes porque seus consumidores já não são mais os mesmos; em outras, porque a própria maneira de buscar informações mudou – e, aqui, nota-se que o discurso vai muito além da volatilidade e rapidez das redes sociais. Trata-se de uma questão muito mais ideológica do que, propriamente, tecnológica.

Tentar buscar um motivo para essa inevitável mudança seria uma tarefa tola e demasiado pragmática, pois esgotaria todos os caracteres deste texto e, ainda assim, deixaria mais pontos de interrogação do que concretudes. Mas talvez caiba, sim, que façamos alguns apontamentos sobre o que mudou (lembrando que nenhum deles é uma alternativa definitiva e tampouco verdade absoluta).

O primeiro, bastante perceptível, é a descentralização do poder da mídia tradicional hegemônica. Não se trata daquela ideia ultrapassada de que veículos tradicionais serão substituídos pelos novos formatos; alguns exemplos recentes, inclusive, comprovam que esse argumento caiu por terra: um estudo de setembro do ano passado do Ibope identificou que 78% dos brasileiros ouvem rádio (percentual bastante elevado para um formato que vem sendo chamado de ultrapassado há décadas). Outro estudo do Ibope, mais específico, revelou que os telejornais foram campeões de audiência em tempos de quarentena. 

Dizer que o poder está descentralizado, portanto, tem a ver com o aumento das possibilidades de consumo. Hoje em dia, um cidadão de classe média pode assistir a um telejornal  ao vivo ou, mais tarde, acessar o conteúdo dele na íntegra pelo aplicativo da rede, pois optou por assistir a live de um influenciador no Instagram. Essa mesma pessoa pode também acompanhar o jornal da manhã da rádio ou, ao invés disso, escutar seu podcast favorito. Finalmente, ela pode assinar um grande e renomado jornal, ou participar do financiamento coletivo de portais independentes que cativem sua atenção. As possibilidades são múltiplas, o que reduz a hierarquia e amplia os espaços de diálogo.

Isso nos direciona à segunda mudança: com a expansão das fronteiras do diálogo, mais escancaradas ficam as opiniões. Nem todas são devidamente fundamentadas e muitas encontram nas redes potencial fortalecedor. A consequência de uma população cada vez mais veemente em suas opiniões é o maior posicionamento da mídia também, ou seria o contrário?

Independentemente do que veio antes, para que não entremos no paradoxo do ovo e da galinha, o fato é que o jornalismo, que sempre vestiu a carapuça de imparcial, finalmente está soltando as rédeas e admitindo o óbvio: nenhum trabalho exercido por seres humanos é imparcial. Existem, é claro, mecanismos que podem (e devem) ser acessados para reduzir a tendenciosidade, mas dizer que um jornalista, com vivências e experiências humanas em sociedade, é capaz de colocar todas as suas ideologias de lado ao escrever um texto, é uma farsa.

O que parece estar em ascensão agora é a confiança dos veículos de comunicação para assumirem posicionamentos mais evidentes; uma prática cunhada entrelaçada ao surgimento da mídia independente, que, em diferentes momentos da história brasileira, assumiu o real papel de quarto poder: vigilante das instituições, do governo e de outros atores sociais.

O jornalismo, de forma geral, tem essa postura, mas, parafraseando Grinberg (1987) e Mazeti (2009), é o jornalismo alternativo que manifesta opção frente ao discurso dominante, pluralizando vozes do debate público, ao oferecer informações muitas vezes silenciadas e distorcidas pelos meios hegemônicos, orientados pelo interesse comercial.

No Brasil atual, falar de direitos humanos é uma tarefa exigente, já que, mais uma vez em nossa história, eles se encontram ameaçados; apropriados por discursos políticos polarizados que os distorcem e vistos por parte da população sob uma ótica doutrinada.

Os veículos independentes, em si, não são uma novidade; tampouco os que falam especificamente de direitos humanos. A novidade seria, então, emergir com essa proposta neste contexto de mudanças pelo qual o jornalismo está passando. Quem sabe, com as novas ferramentas tecnológicas, a democratização do poder midiático e o maior posicionamento popular, esses veículos ganhem espaço e força para reproduzir a ideologia pela qual se sustentam, através de conteúdos de qualidade.

O journal48 nasce com essa esperança, fruto de um momento de incontáveis transformações (que avançam as fronteiras do que foi brevemente exposto neste texto) e grandes expectativas. Falar sobre direitos humanos não é “mi-mi-mi”, não é imposição desnecessária e não deveria ser unilateral. A ideia, aqui, é propor diálogos, fundamentar opiniões, construir críticas necessárias e dar continuidade a essa constante evolução jornalística.